Viver Telheiras

Diário de uma hortelã

Histórias do Parque Hortícola / Julho 2, 2014

Nada faria antever que vivendo em Lisboa pudéssemos ter uma aventura tão fascinante como a que estamos a viver. É verdade, em finais de 2012 foi-nos atribuída uma horta para nos dedicarmos à agricultura. Na altura dissemos: E agora?

Para quem não detinha antepassados dedicados à agricultura, este “E Agora?” foi a interrogação que precisávamos para nos lançarmos “à terra”!

Com grande ansiedade e algum nervoso miudinho, fomos, então, conhecer a nossa horta. As reações foram diversas: eu e o meu marido nunca achámos 80 m2 “tão grandes” e os nossos filhos, absolutamente intrigados, inundavam-nos de perguntas como “É aqui que podemos plantar o que quisermos? Podemos começar já? Podemos regar?”

Desde essa altura, entre formação, buscas na internet sobre boas práticas para agricultura biológica e muitos conselhos de famílias (urbanas!), amigos e vizinhos de talhões, temos semeado, plantado, regado, colhido e feito tantas outras atividades inerentes à manutenção da horta.

Mas a nossa horta mostrou-nos que é muito mais do que a terra que nos dá suados, saudáveis e frescos produtos para a nossa alimentação.

Com efeito a nossa horta tem múltiplas e importantes funções. Desde cedo que é palco de encontros familiares. A nossa família participa, ativamente, na manutenção da horta. Enquanto os mais novos se entretêm a levar o carrinho de mão carregado das inúmeras ervas indesejáveis para o lixo (sendo o regresso um verdadeiro divertimento de montanha russa), descansando a comer uma cenoura acabada de colher (e lavada, acho eu!), os mais velhos colocam a conversa em dia enquanto cavam (e é duro!), semeiam, plantam, colhem e enchem o carrinho de mão! Entre confissões e gargalhadas assim se passam as manhãs ou as tardes de fim de semana (Ai se a nossa terra falasse!)

A horta representa, igualmente, uma “escola”, demonstrando a importância de semear e colher e que os “produtos não nascem no supermercado”, já limpinhos e sem terra. O nosso filho mais novo quis apresentar a nossa horta aos seus coleguinhas da escola – Com grande orgulho, parecia que estava a mostrar o “seu melhor brinquedo”. O nosso filho mais velho, faz as delícias dos colegas e das professoras, quando conta que antes de ir para a escola, nos meses de primavera e verão, vai regar a horta. Os alimentos no prato assumem agora uma importância relevante: são da nossa horta!

Mas acima de tudo, a horta tem sido uma lição de vida. A nossa relação com a terra acaba por poder ser replicada para a nossa vida em família e sociedade: Para colher é preciso semear (ou plantar); é preciso cuidar e estar atento e mesmo assim, nem todas as plantações correm bem, mas há sempre uma nova oportunidade para melhorar e corrigir algum erro, e uma coisa a que a nossa sociedade se parece ter esquecido… é preciso saber esperar e aguardar o melhor momento para atuar!

Talhão 6 “Horta Lissa”

(Carregue na imagem para aumentar)

Histórias do Parque Hortícola / Julho 2, 2014
  • Maria

    Parabéns á escritora muito bem narrado!!!!!!!!!!!

  • Guest

    Eu gosto especialmente de: «A horta representa, igualmente, uma “escola”, demonstrando a importância
    de semear e colher e que os “produtos não nascem no supermercado”, já
    limpinhos e sem terra.»
    Deve ter sido por isso que o Zé Sá Fernandes ignorou os pedidos das associações juvenis do bairro.

  • Milhomens

    Eu gosto especialmente de: «A horta representa, igualmente, uma “escola”, demonstrando a importância de semear e colher e que os “produtos não nascem no supermercado”, já limpinhos e sem terra.»
    Deve ter sido por isso que o Zé Sá Fernandes ignorou os pedidos de espaços das associações juvenis do bairro.

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