Diário de uma hortelã
Nada faria antever que vivendo em Lisboa pudéssemos ter uma aventura tão fascinante como a que estamos a viver. É verdade, em finais de 2012 foi-nos atribuída uma horta para nos dedicarmos à agricultura. Na altura dissemos: E agora?
Para quem não detinha antepassados dedicados à agricultura, este “E Agora?” foi a interrogação que precisávamos para nos lançarmos “à terra”!
Com grande ansiedade e algum nervoso miudinho, fomos, então, conhecer a nossa horta. As reações foram diversas: eu e o meu marido nunca achámos 80 m2 “tão grandes” e os nossos filhos, absolutamente intrigados, inundavam-nos de perguntas como “É aqui que podemos plantar o que quisermos? Podemos começar já? Podemos regar?”
Desde essa altura, entre formação, buscas na internet sobre boas práticas para agricultura biológica e muitos conselhos de famílias (urbanas!), amigos e vizinhos de talhões, temos semeado, plantado, regado, colhido e feito tantas outras atividades inerentes à manutenção da horta.
Mas a nossa horta mostrou-nos que é muito mais do que a terra que nos dá suados, saudáveis e frescos produtos para a nossa alimentação.
Com efeito a nossa horta tem múltiplas e importantes funções. Desde cedo que é palco de encontros familiares. A nossa família participa, ativamente, na manutenção da horta. Enquanto os mais novos se entretêm a levar o carrinho de mão carregado das inúmeras ervas indesejáveis para o lixo (sendo o regresso um verdadeiro divertimento de montanha russa), descansando a comer uma cenoura acabada de colher (e lavada, acho eu!), os mais velhos colocam a conversa em dia enquanto cavam (e é duro!), semeiam, plantam, colhem e enchem o carrinho de mão! Entre confissões e gargalhadas assim se passam as manhãs ou as tardes de fim de semana (Ai se a nossa terra falasse!)
A horta representa, igualmente, uma “escola”, demonstrando a importância de semear e colher e que os “produtos não nascem no supermercado”, já limpinhos e sem terra. O nosso filho mais novo quis apresentar a nossa horta aos seus coleguinhas da escola – Com grande orgulho, parecia que estava a mostrar o “seu melhor brinquedo”. O nosso filho mais velho, faz as delícias dos colegas e das professoras, quando conta que antes de ir para a escola, nos meses de primavera e verão, vai regar a horta. Os alimentos no prato assumem agora uma importância relevante: são da nossa horta!
Mas acima de tudo, a horta tem sido uma lição de vida. A nossa relação com a terra acaba por poder ser replicada para a nossa vida em família e sociedade: Para colher é preciso semear (ou plantar); é preciso cuidar e estar atento e mesmo assim, nem todas as plantações correm bem, mas há sempre uma nova oportunidade para melhorar e corrigir algum erro, e uma coisa a que a nossa sociedade se parece ter esquecido… é preciso saber esperar e aguardar o melhor momento para atuar!
Talhão 6 “Horta Lissa”
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Maria
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