
PQ. Refood Telheiras: quando a comunidade aproveita para alimentar
A Refood Telheiras pertence à Parceria Local de Telheiras. Durante duas semanas, está em destaque. É o Parceiro da Quinzena. Conheça o bairro e as pessoas que lhe dão vida!
É quinta-feira mas podia ser outro dia qualquer. Numa rua perdida no mapa do bairro, acontece o mesmo sempre que o sol se deita. O número 2E da Rua Mário Dionísio ganha vida quando quase todos regressam a casa. É a Refood Telheiras que mora ali.
Vão chegando um a um ou em pequenos grupos. Jovens e não tão jovens. Alegres ou com um ar cansado. Mas presentes. Põem mãos ao trabalho. De avental, touca e mangas arregaçadas. São voluntários que decidiram fazer do fim do dia tempo para dar aos outros.
A fórmula é simples: resgatam as sobras alimentares e entregam-nas às famílias carenciadas. Tudo cá no bairro.
Querem combater o desperdício alimentar e diminuir a insuficiência alimentar enquanto constroem uma comunidade mais solidária. Todos os dias, os voluntários recolhem a comida em perfeitas condições de restaurantes, cafés, pastelarias e distribuem-na por quem mais necessita, sempre cá no bairro.
Por aqui, tudo começou em Janeiro de 2013. Otília Faria era voluntária no primeiro – e até à altura único – núcleo Refood. Um dia assustou-se com o número de famílias com fome cá no bairro. “Mas são mesmo de Telheiras?”, perguntou ao Padre Rui Rosas, quando no final da missa de domingo se pedia voluntários para entregar alimentos a quem precisava. Eram mesmo.
Não podia ser. Falou com o fundador, o “americano de chapéu”. Queria replicar o projecto cá no bairro. Em menos de um mês, formou-se a equipa de 12 pessoas. O projecto arrancou.
Da comunidade para a comunidade

Começou-se do zero. Sem dinheiro, com muita vontade. O princípio da Refood é micro-local. É a comunidade a trabalhar para a própria comunidade. Foi assim desde o início. Uns ofereceram pavimento, outros ladrinho, outros estuque, outros mão de obra para encher a pequena loja cedida pela EPUL.
A partir daí tudo foi crescendo. As famílias apoiadas, as fontes de alimento, os voluntários.
Hoje são quase 200 voluntários, 53 fontes de alimentos. Todos os dias, de segunda a sexta, a pequena loja dá refeições a mais de 150 pessoas: sopa, prato principal, pão, bolos e fruta. Em 2014, foram resgatadas 35 mil refeições e 50 mil doses de pão e bolos.
Trabalham em parceria com assistentes sociais da freguesia e da paróquia de forma a não haver sobreposição de apoios.
“Se não fosse isto, muitos tinham morrido à fome”. Quem o diz é Carmo, voluntária. E há dias em que os olhos brilham porque a comida sobra. Outros, em que se faz ginástica para poder entregar algo que se veja. Pão e bolos é que nunca faltam.
Mas há casos especiais. A pobreza envergonhada, os pobres que nunca foram pobres. Combinam horas e sítios diferentes para receber aquilo que pensaram que nunca lhes faltaria.
Entre frigoríficos, estantes e caixas, trabalham novos e velhos. Há verdadeiras aulas de cultura geral, garantem. Agarram-se todos da mesma forma a lavar loiça e a limpar o chão. No fim, há cansaço e muita alegria. Garantem que são os maiores beneficiários. “Não há alegria maior do que saber que num determinado momento fizemos a diferença na vida de alguém”.
Veja também:
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