Quem não quer ter uma horta?
A horticultura urbana ganha cada vez mais praticantes, há um crescente interesse por esta atividade. Afinal, quem não gostava de ter uma horta?
As motivações para nos dedicarmos a esta atividade são várias, a horta pode ser um meio de subsistência, ou uma ocupação de tempos livres saudável e gratificante. Sem ser uma resposta à crise e ao desemprego, é uma fonte alimentar complementar mais económica.
Sociólogo, alentejano, residente em Lisboa há mais de cinco décadas e agora aposentado, também dei comigo a cultivar uma pequena horta no Parque Hortícola de Telheiras, junto ao jardim à saída da estação do Metro, em plena cidade.
Relembro agora tempos de infância na aldeia onde nasci e onde o meu pai me ensinava o que eram ervas adventícias e daninhas, como tratar duma horta, fazer enxertias, como plantar alhos e utilizar as cinzas da lareira como adubo.
Fazer sementeiras, regar, ver crescer o que se plantou e saborear os frutos hortícolas resultantes desse trabalho, é deveras aliciante!
Dá gosto comer alimentos saudáveis e é um prazer plantar, ver crescer e colher aquilo que se plantou, sejam ervas aromáticas, nabiça, couves, batatas, alfaces, tomates, cebolas, pimentos, morangos, coentros ou rabanetes!
Teremos todos que cavar?
Na internet, pode ver e aprender muito sobre hortas urbanas, hortas verticais, como fazer hortas em varandas, terraços, agricultura biológica, permacultura, etc. mas é na prática que vamos aprendendo e esse é o desafio mais importante. Para o praticante de surf, de parapente, ou de outra modalidade, como para o hortelão, saber é importante, mas tal como para o padeiro, se não se meter a mão na massa, não se obtêm resultados!
Se quer ser hortelão e não dispõe de terreno, não precisa de começar já a cavar!
Na horticultura urbana como noutras modalidades, vamos aprendendo com a prática, com as dicas e conhecimentos de hortelãos mais experientes. Podemos juntar a consulta do tradicional Borda de Água à pesquisa pela internet, ou consultar livros especializados.
Comece por arranjar uma floreira ou um vaso, coloque-o na varanda, no parapeito da janela ou na cozinha e experimente plantar lá um raminho de hortelã que pega muito bem, desde que tenha um pouco de raiz. Regue, acompanhe o seu crescimento e vá utilizando esta bela planta decorativa e aromática nos seus cozinhados, saladas, chás, refrescos ou batidos!
As Hortas vão passar de moda?
O interesse pelas hortas urbanas que agora vemos crescer à nossa volta, vai passar de moda?
Será um snobismo da população urbana stressada, sonhando um regresso idílico ao campo? Ou é o regresso aos valores rurais e populares tradicionais, o retomar da nossa tradição agrícola, agora num patamar de conhecimentos não apenas de base empírica, mas com mais bases científicas?
Quem são estes hortelãos, pessoas desempregadas, reformadas, gente nova ou idosa, qual o grau de escolaridade e que tipo de experiência ou ligação anterior à agricultura ou horticultura?
O que traz de novo a horticultura urbana em relação à agricultura de subsistência nas leiras de terra, às hortas tradicionais e às hortas já existentes de há muito nos recantos e à beira das grandes cidades?
As hortas urbanas vieram para ficar ou são moda passageira – um intervalo no abrandamento de expansão económica, da concentração urbanística e da especulação imobiliária?
Quais as suas causas? As hortas urbanas, como algumas ciclovias, são simples remendos urbanísticos rasgados a custo entre prédios de betão nas grandes cidades? Resultam somente da falta de um ordenamento territorial capaz e de planos urbanísticos que dão mais atenção ao betão lucrativo, em vez de proporcionarem mais qualidade de vida aos seus residentes, com especial atenção à vida saudável, à natureza e ao verde envolvente, à floresta, aos jardins, às hortas e aos pomares?
Luís Ferreira
Horta 21
O Parque Hortícola nasceu em Telheiras há quatro anos. Uma vez por mês, os hortelãos do bairro deixam a terra e dão uso à caneta. Talhão a talhão, contam-nos os segredos da horta. A alegria da sopa de legumes, o cansaço do cuidado. Enfim, as histórias e aventuras de quem é da terra na cidade.