
Ainda somos activistas?
Podemos ser defensores acérrimos de qualquer coisa, especialistas em algo bizarro, aquele amigo perto do fundamentalista (sem nunca para lá cair) que sabe tudo sobre algo altamente improvável.
Comemorou-se há um mês os 40 anos do 25 de abril, o dia em que país tornou a viver em liberdade. Contaram-nos na escola dos soldados no Largo do Carmo e no Terreiro do Paço, da alegria da gente no meio dos tanques e dos cravos, do sorriso que ninguém dispensava por entre palavras de ordem.
Há dias em que parece que, a partir daí, todos tomaram a luta do país, até pelo bem-estar no seu próprio bairro, como terminada.
Olho para a geração nascida já nos 80’s e questiono-me sobre o que lutamos nós. Comportamo-nos de acordo com a liberdade em que já nascemos e, levianamente, achamos que não temos mais nada a fazer pelos horizontes do mundo. A liberdade dá-nos a oportunidade de viver livres… mas é um passe para nos tornarmos o centro de nós mesmos?
Há causas maiores que desfilam na televisão. Comovem-nos algumas, até pegamos no telefone para contribuir com 0,60€ + IVA… e depois apagamos essa preocupação da memória. Onde andam os jovens inflamados, rostos de crenças, vozes de revolta, palavras convictas, defensores de verdades que asseguravam irrefutáveis?
Deixámos de ser activistas precisamente quando?
Não temos de ser todos políticos e intelectuais. Podemos ser defensores de animais, de plantas, do mundo sem tecnologia, do vegetarianismo, da leitura em papel, de música, de linguagem gestual. Podemos ser fãs acérrimos de qualquer coisa, especialistas em algo bizarro, aquele amigo perto do fundamentalista (sem nunca para lá cair) que sabe tudo sobre algo altamente improvável.
Eu sei, temos falta de tempo.
Registamo-nos em todo o lado para ficarmos a par das notícias, até estamos atentos ao que se passa no mundo, mas não temos disponibilidade para nos relacionarmos verdadeiramente com ele. E até queremos, juramos que queremos!, mas por entre o trabalho e as redes sociais, entre os filhos e as idas ao supermercado, sobra pouco tempo para fazermos voluntariado, para nos preocuparmos com algo para além de nós.
Mas… e se hoje tivesses de ser activista por alguma coisa… qual é que escolhias?
