
Aristides Sousa Mendes. Quando a consciência exige desobediência
Recentemente realizou-se um colóquio no Centro Cultural Franciscano, na Luz, que reflectiu sobre a acção do cônsul português em Bordéus, durante a Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes. No colóquio participaram professores e investigadores da Universidade Católica, um jornalista e investigador, dois activistas internacionais pela causa da homenagem póstuma a Sousa Mendes, membros da família empenhados no desenvolvimento da fundação Sousa Mendes e respectivo museu e memorial em Cabanas de Viriato. O colóquio foi muito interessante não só pela revelação mais detalhada da acção de Sousa Mendes naquele período da guerra, mas também e sobretudo pela problemática que ainda hoje é de grande actualidade, da dialéctica entre a obediência no exercício de uma actividade ou função, a consciência moral pessoal e a própria responsabilidade pessoal nos actos praticados ainda que sobre a protecção da obediência a “ordens superiores”.
É curioso observar que quási todos os altos responsáveis civis e militares alemães julgados no Tribunal de Nuremberga, pelos crimes de guerra cometidos durante a Segunda Guerra Mundial, alegaram em sua defesa, perante os juízes e o Tribunal Internacional, o princípio de “obediência a ordens superiores”, houve apenas uma excepção. Como é que se pode alegar este princípio para matar ou deixar morrer pessoas indefesas e sem culpa formada?
Foi este dramático dilema que esteve na consciência de Aristides Sousa Mendes que não reagiu de uma forma imediata e inconsciente mas percebeu que não ajudar aqueles milhares de fugitivos e não permitir-lhes a passagem para Portugal era o mesmo que deixar que eles morressem às mãos do regímen nazi. Por isso após tempo de reflexão e sofrimento pessoal decidiu pela sua consciência moral com risco da sua carreira profissional e cair no completo desagrado do Governo Português.
Hoje sabemos pelos inúmeros estudos e investigação histórica desses tempos que os países do Sul da Europa, Itália, Espanha e Portugal, assumiram vários graus de envolvimento com o regime nazi, personalizado por Adolf Hitler, sendo a motivação principal desta política o “perigo comunista” na Europa. Hoje sabe-se que houve vários factos que demonstram, até certa altura da guerra, ter Salazar cooperado com o regime nazi em situações que desmentem claramente o seu apregoado neutralismo. Só, posteriormente, a partir da cedência da base das Lages aos Aliados e do corte do fornecimento de volfrâmio à Alemanha, Portugal passou a alinhar pelos Aliados. Muito antes desta viragem do regime português foi no contexto atrás descrito que se desenvolveu a acção do cônsul de Bordéus e que esta adquiriu, muito mais tarde, grande dimensão e exemplo histórico. Muitos cidadãos de elevado estatuto político estiveram perante dilemas de igual ou superior gravidade e seguiram pelo caminho da “obediência a ordens superiores” mas Aristides de Sousa Mendes não.
Pedro Lagido tem 77 anos e vive no bairro há 30. Trabalhou como engenheiro químico e esteve na Assembleia Constituinte. Quer viver plenamente e dar um contributo da sua experiência pessoal e profissional aos filhos e netos e a quem mais possa ser útil.
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