Viver Telheiras

Aristides Sousa Mendes. Quando a consciência exige desobediência

Problemas e Oportunidades / Julho 1, 2015

Recentemente realizou-se um colóquio no Centro Cultural Franciscano, na Luz, que reflectiu sobre a acção do cônsul português em Bordéus, durante a Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes. No colóquio participaram professores e investigadores da Universidade Católica, um jornalista e investigador, dois activistas internacionais pela causa da homenagem póstuma a Sousa Mendes, membros da família empenhados no desenvolvimento da fundação Sousa Mendes e respectivo museu e memorial em Cabanas de Viriato. O colóquio foi muito interessante não só pela revelação mais detalhada da acção de Sousa Mendes naquele período da guerra, mas também e sobretudo pela problemática que ainda hoje é de grande actualidade, da dialéctica entre a obediência no exercício de uma actividade ou função, a consciência moral pessoal e a própria responsabilidade pessoal nos actos praticados ainda que sobre a protecção da obediência a “ordens superiores”.

É curioso observar que quási todos os altos responsáveis civis e militares alemães julgados no Tribunal de Nuremberga, pelos crimes de guerra cometidos durante a Segunda Guerra Mundial, alegaram em sua defesa, perante os juízes e o Tribunal Internacional, o princípio de “obediência a ordens superiores”, houve apenas uma excepção. Como é que se pode alegar este princípio para matar ou deixar morrer pessoas indefesas e sem culpa formada?

Foi este dramático dilema que esteve na consciência de Aristides Sousa Mendes que não reagiu de uma forma imediata e inconsciente mas percebeu que não ajudar aqueles milhares de fugitivos e não permitir-lhes a passagem para Portugal era o mesmo que deixar que eles morressem às mãos do regímen nazi. Por isso após tempo de reflexão e sofrimento pessoal decidiu pela sua consciência moral com risco da sua carreira profissional e cair no completo desagrado do Governo Português.

Hoje sabemos pelos inúmeros estudos e investigação histórica desses tempos que os países do Sul da Europa, Itália, Espanha e Portugal, assumiram vários graus de envolvimento  com o regime nazi, personalizado por Adolf Hitler, sendo a motivação principal desta política o “perigo comunista” na Europa. Hoje sabe-se que houve vários factos que demonstram, até certa altura da guerra, ter Salazar cooperado com o regime nazi em situações que desmentem claramente o seu apregoado neutralismo. Só, posteriormente, a partir da cedência da base das Lages aos Aliados e do corte do fornecimento de volfrâmio à Alemanha, Portugal passou a alinhar pelos Aliados. Muito antes desta viragem do regime português foi no contexto atrás descrito que se desenvolveu a acção do cônsul de Bordéus e que esta adquiriu, muito mais tarde, grande dimensão e exemplo histórico. Muitos cidadãos de elevado estatuto político estiveram perante dilemas de igual ou superior gravidade e seguiram pelo caminho da “obediência a ordens superiores” mas Aristides de Sousa Mendes não.

 

Pedro Lagido tem 77 anos e vive no bairro há 30. Trabalhou como engenheiro químico e esteve na Assembleia Constituinte. Quer viver plenamente e dar um contributo da sua experiência pessoal e profissional aos filhos e netos e a quem mais possa ser útil.

“Problemas e Oportunidades” reflecte os tempos que vivemos e corresponde à experiência da civilização: a seguir a um problema, surgem oportunidades novas. Publica sobre temas que vão desde a Terceira Idade até aos novos modelos de economia.

Problemas e Oportunidades / Julho 1, 2015
  • Milhomens

    “Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus” Aristides de Sousa Mendes

  • ASM BUENOS AIRES

    É filmado en Buenos Aires um documentario sobre a vida de Aristides de Sousa Mendes.
    Arte&Cultura 15.10.16

    “Aristides era um homem como qualquer outro simplesmente que num desses cruzamentos que nos sabe pôr a vida não reagiu como a maioria” começa-nos dizendo Victor Lopes,um argentino com nacionalidade portuguesa que confessa “assim como alguns portugueses me dão vergonha e pelo qual peço desculpa ao mundo inteiro, há também outros, como Aristides de Sousa Mendes que é o orgulho de um Portugal moderno e vigoroso que respeita os direitos humanos e rejeita qualquer tipo de autoritarismo e ditadura”.
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    Sousa Mendes é um dos quatro portugueses declarado “Justo entre as nações” por ter salvado milhares de pessoas perseguidas pelos nazis durante o holocausto, enquanto os argentinos filmam o documentário na cidade de Buenos Aires, o Presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa anuncia em Nova Iorque que vai condecorar a Aristides de Sousa Mendes com a “Grande Cruz da Ordem da Liberdade” e reconhece que “hoje lhe devemos a Aristides muito mais do que sabiamos até agora”.
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    “Não se é Santo por ser elegido pelos Deuses, senão que, se é elegido pelos Deuses por ser Santo”. Repete Victor Lopes para significar a obra humanitária do Cônsul de Portugal em Burdeus que assinou 30000 visas em apenas sete dias desobedecendo ao ditador luso António de Oliveira Salazar, quando os nazis invadian França nos cruéis tempos de 1940, “Para Aristides tinha sido fácil desocupar com o exército ou a policia os jardins da Embaixada que nesse momento encheram-se de homens, mulheres e crianças perseguidos procurando un salvoconduto que os levara ao porto de Lisboa sem embargo Aristides não o fez….Sousa Mendes não chamou as tropas alemãs…. o que eu faria?….o que farias tu? o que fariam os nossos atuais Embaixadores de Portugal ao redor do mundo?”.

    É o eterno conflito gerado entre ” o dever e a conciência que não sempre se põem de acordo” diz Lopes, enquanto nos faz lembrar daquele soldado da obra de Javier Cercas que pudendo matar a um Sanchez Mazas indefeso decidiu não o fazer durante a tragédia da Guerra Civil Espanhola

    Portugal teve uma ditadura de mais de quarenta anos e desembaraçar a trama de complicidades com centos, milhares de profissionais e lideres formados na intolerância vai levar muito tempo como sabe suceder nos países que sofrimos os regimes autoritários apesar do esforço e a boa vontade que os atuais dirigentes e novas gerações democráticas realizam.

    Levar ao ecrã do público americano a história de Sousa Mendes é um dos objetivos do realizador com uma equipe formada nas universidades Argentinas de cinema baixo a atenta olhada de Paula Fossatti e Ramiro Klement, junto aos atores Melissa Zwanck y Nahuel Vec, Lopes vai aportar “o seu grãozinho de areia” aos que já vêm realizando faz muito tempo em diversos lugares do mundo, familiares, amigos e ferventes seguidores da causa Sousa Mendes.

    A estréia do documentário “Aristides um homem bom” está previsto para o fim do ano e se realizará no marco do Festival Internacional dos Direitos Humanos., embora Victor Lopes reconhece que pouco a pouco irá respondendo âs convocatórias que a diário lhe chegam já que a proposta causou boa recepção por tratar-se duma história práticamente desconhecida e que ainda desperta certa polémica nos setores mais conservadores da sociedade portuguesa.
    https://www.youtube.com/watch?v=xCezJjLgpio

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