
Inverno, primavera, verão… e outono
Pois é, já estamos na terceira estação das quatro que tem o ano. Sinto arrepios no peito, cócegas no estômago e, enquanto estou assim sensível e com as emoções à flor de pele, até me sinto com vontade de deitar fora alguma lágrima pequenina. Sete meses passam quase tão rápido como uma estrela fugaz no verão, portanto, fazes cálculos e, se sete meses passam assim tão rápido, preferes nem pensar como é que vão passar quatro (basicamente porque, enquanto fazes os cálculos, os quatro meses já passaram).
O verão foi esquisito e lindo. Aproveitei as minhas férias para animar um campo de férias numa quinta de cavalos num dos lugares mais lindos da Galiza, Ortigueira. E entre crianças e animalinhos, os verdes e azuis do norte, e a chuva quase sempre a ameaçar, passou o meu mês de julho que acabou com as músicas do Caetano e do Gilberto a cantar e dançar juntinhos em Oeiras. Em agosto voltei a Lisboa. Uma Lisboa hostil, vazia de habitantes mas cheia, terrivelmente cheia, de turistas. Fugimos uns dias a conhecer o que era um grande desconhecido para mim: o Alentejo. Sim, confesso que tudo o que há na outra beira do rio era para mim um mistério e um enigma por resolver (e de facto, ainda continuo a olhar para Margem Sul como um ar um tanto enigmático…). Apesar de não ser a melhor altura para conhecer os mistérios do sul português, o nosso road trip levou-nos por praias, cabos e faróis desde os quais vimos os melhores pores-do-sol em Portugal.
Antes de agosto acabar, eu voltei à Galiza. Há coisas que deixamos atrás, nas nossas cidades, que precisamos de recuperar de quando em vez: amig@s, família e essas costumes do dia a dia tais como as tapas* ou dançar, cantar e tocar nas foliadas*! Após ter matado saudades, voltei a Lisboa. Voltou a rotina a Telheiras também. Foram-se embora alguns voluntários e voluntárias, pessoas muito queridas que fizeram parte da minha família lisboeta cá: a Lidia, o Tommaso, a Giulia e a Natalia. Alguns não resistiram a saudade e voltaram…Chegaram também novos voluntários e colegas de casa. A nossa família cá está sempre a mudar, as pessoas vão e vêm mas sempre há muito amor e carinho entre todos, como quem sabe e sente que deixamos muita coisa para trás e precisamos de criar laços afectivos, sorrisos e amizades para nos sentirmos como em casa.
E de repente, sem nos darmos conta, o verão acabou (ainda que não o pareça..).
Chega a minha estação favorita em Lisboa. Bem-vindo, outono. Adoro-te assim com as folhas a dar voltas no ar e a cair nas ruas para poder saltar sobre elas e sentir esse prazer crocante ao caminhar, enquanto desfruto os últimos meses na cidade mais linda do universo que já tem um cheirinho a castanhas assadas.
*Tapas: petiscos típicos da Espanha que na maioria dos lugares costumam ser muito baratos e, nomeadamente na Galiza, até a borla junto com a bebida. É sempre a desculpa que temos galegos e espanhóis para nos encontrarmos com família e amigos.
*Foliada: festa tradicional galega em que as pessoas, de todas as idades, se reúnem para tocar, cantar e dançar músicas populares. Costuma haver muita comida e bebida.
María Mejuto
María é uma jovem do norte de Espanha que colabora com o Centro de Convergência de Telheiras através do Serviço de Voluntariado Europeu. Galega e de coração transatlântico, é educadora social, curiosa e viajante. Depois de morar um ano em Lisboa, cidade que a fez “alfacinha”, passou a trabalhar em diferentes entidades sociais e educativas da Galiza para finalmente voltar a terras lusas através do Serviço de Voluntariado Europeu.
A Sonia é pedagoga e educadora social, natural da Galiza, amante de cães, da praia, de viajar e descobrir o mundo lá fora. Tem trabalhado durante vários anos na área social e agora vem experimentar a realidade lisboeta. É a menina mais sorridente que vão encontrar em Telheiras a conversar com qualquer pessoa!
“De Telheiras para o mundo” é um conjunto de crónicas sobre as suas vivências e reflexões inspiradas no bairro de Telheiras e na cidade de Lisboa.