
O meu colega terapeuta – o cão
Apanhar sol, passear no jardim, receber um abraço, ouvir crianças a rir e dar festas a um cão.
A receita perfeita para uma boa saúde!
Sabemos que um pouco de natureza faz bem, que essa natureza surja na forma de um cão de cauda a abanar, é capaz de ser novidade.
Há vários estudos, alguns já bem antigos, que descobriram que a presença e contacto com animais fazem bem à saúde física e psicológica do ser humano. Como donos de cães, sentimos no coração como isso é verdade. Mas como será, exactamente, que o cão colabora neste meio terapêutico que tem resultados em áreas tão abrangentes como a saúde física, mental, as emoções e as relações humanas!?
Quando um ser humano lida com um cão, surge um vínculo natural e espontâneo que faz emergir emoções positivas. Este facto foi detectado por especialistas de saúde e tem sido aproveitado para tornar o processo terapêutico mais rápido e eficaz. Assim, apareceram as intervenções assistidas por animais como método complementar de terapia, para uma variadíssima gama de populações carenciadas. Seguem alguns exemplos surpreendentes.
O cão, um ser sem juízos de valor, é um óptimo ouvinte para crianças na terapia da fala. O calor, o pêlo macio, o movimento causado pela respiração… tornam o simples contacto com o cão algo reforçante em si mesmo e promovem sensações sensoriais diferentes do habitual para um residente de um lar. O olhar e a resposta espontânea e verdadeira que o cão faz, responsabilizam um adolescente problemático da sua acção sobre os outros de forma natural e sem obrigação. Fazer um jogo de estimulação cognitiva em que o cão está inserido, inspira a memória, o cálculo, a compreensão e outros processos cognitivos que precisam de ser fomentados numa pessoa com dificuldades de aprendizagem ou demência.
Impulsionado pela linguagem corporal (onde tanto acontece sem nos apercebemos) o cão é capaz de criar uma interacção com uma criança autista que facilita a comunicação entre ela e o terapeuta. E, finalmente, brincar com um cão faz com que o esforço físico, imprescindível a alguém que esteja a recuperar de um acidente, seja muito mais fácil e até divertido!
Resumindo, “o cão é bom”!
Quando começaram a ser identificados mais e mais efeitos positivos do cão em processos terapêuticos começou-se a pôr mãos à obra. Para trabalhar em intervenções assistidas por animais, nomeadamente em terapias, é preciso ter uma ampla formação pois é algo que envolve trabalhar com 1) o cão, 2) o utente e a sua especificidade de saúde física e/ou mental, 3) o terapeuta com uma formação específica e 4) a instituição onde se desenrola o projecto.
Ou seja, é muita coisa e dá trabalho a sério. É preciso que o técnico tenha conhecimento e prática de treino de cães, assim como conhecimentos sobre a doença/problemática com a qual está a lidar, pois um idoso com demência é muito diferente de uma criança autista. Adicionalmente é um trabalho com uma equipa multidisciplinar que pode incluir psicólogos, educadores sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, animadores socioculturais…!
E o cão não fica atrás! Os cães que fazem este tipo de trabalho têm cerca de um ano de treino regular antes de serem considerados cães de terapia. Para eles, tal como para o terapeuta é um trabalho e não apenas diversão. Não obstante, todo o treino é feito de forma positiva, ou seja, sem castigos ou intimidação, pois queremos um cão com bem-estar e vontade para trabalhar, para que possa transmitir essa felicidade aos outros!
Nota: “O cão é bom” é a frase que oiço todas as semanas de um utente que, mesmo numa cadeira de rodas, se agarra com toda a força e carinho ao nosso co-terapeuta de quatro patas, o cão.
Margarida Meira
Colaboradora na IWA – Intervenções Assistidas por Animais
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