Razões injustificadas para a empatia
São animais que vivem nas nossas casas. Aqui é uma gata, uma cadela e um gato.
Ainda estou perdida em sonhos e enterrada debaixo do edredão, mas alguma coisa já me incriminou. Não sei se foi o despertador, mas a verdade é que tenho três animais com os olhos cravados em mim. Uma delas, pequenina e leve aguarda o início do dia no cantinho de lá da cama, passando despercebida no seu delicado conforto. A outra é um bocado mais trapalhona e, embora a primeira intenção fosse de cortesia, já está espalhada pela cama com o focinho a dois milímetros da minha cara. Ele está à porta. Tem uma atitude paciente e de respeito pelo espaço dos outros.
Instintos? Percepção? Adaptação ao meio ambiente?
A situação caricata transforma-se e já está o gato na mesa-de-cabeceira, a gata pulando numa reacção explosiva à movimentação dos outros e a cadela com, não só o focinho, mas todo o corpo a colado a mim. Acordo assim dentro de uma aventura cheia de movimentações divertidas, que despoletam em mim gargalhadas deliciosas.
Aprendizagem? Interacção Social?
O dia continua, quando volto a casa do trabalho sou abalroada pela cadela que dança e canta com tanto abanico e uivo à minha volta.
Necessidades? Motivação? Comunicação?
Parece feliz. Esta dança é tão impressionante, que a gata passa despercebida a olho nu. Mas o dia-a-dia não se dissolve, pelo contrário, é pintado por momentos coloridos como este, que ficam marcados na memória. E é assim que me lembro de a cumprimentar sempre também. Sei que ela veio disparada até à porta para ser fintada pela cadela no último segundo, tendo assim que se desviar para baixo da mesa. O gordo fica no sofá, claro, mas até esta repetição é tão natural e previsível que me faz sentir que cheguei a casa. Aterro no sofá e três cabecinhas vão-se encostando às minhas mãos, à vez, em turrinhas fofas, fazendo-me sentir bem-vinda.
Seja o que for, é bom. Obrigada.
Hoje é assim, sem factos científicos, sem interpretações, sem abordagens comportamentais ou técnicas de treino. E, quem diria, sem tudo isso, mesmo assim temos a melhor parte. É a razão sem explicação porque os adoramos nas nossas vidas: A partilha de bons momentos.
Além da Trela tem como missão promover uma relação excelente entre donos e os seus cães, com base na confiança, respeito e alegria, através de técnicas positivas de aprendizagem.