Regresso às Origens (Parte 1)
Em meados dos anos 90 (do século passado, vejam só!) muitos lisboetas (e, entre estes, telheirenses) participaram em diversas acções de promoção e defesa de duas formas de estar e de viver na cidade consideradas então como algo “esotéricas” ou mesmo “saloias”: fazer agricultura e deslocar-se regularmente em bicicleta.
Apesar de ideias e práticas há muito estabelecidas noutras cidades desenvolvidas, na Lisboa do crescimento económico, do império do automóvel e de algum novo-riquismo, aquelas reivindicações soavam para muitos como um regresso ao passado pobre e rural, incompatíveis com a vida urbana moderna.
Felizmente, a difusão de informação, o crescimento do movimento cívico e as acções concretas de vários actores, trataram de demonstrar que cidade e campo não têm de ser espaços estanques separados e que o “modelo automóvel” não podia continuar a desfigurar a cidade. O caminho ainda é longo, mas deu-se uma inflexão nas mentalidades e nas políticas urbanísticas de que se notam já benefícios e de que esperamos que as gerações mais novas possam vir a beneficiar mais plenamente.
As hortas urbanas tiveram em Portugal um “pai” e persistente defensor, o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, que bem soube levar a autarquia a incorporar, nalguma medida, essa componente ecológica nos seus planos e que contagiou (ou ajudou a redescobrir) o gosto pela terra em tantos lisboetas urbanos que, finalmente, se aperceberam que são também lisboetas rurais, duas vertentes totalmente compatíveis.
Naqueles finais de anos 90, diversas reuniões e projectos chegaram a anunciar hortas sociais / pedagógicas para a zona da Quinta de Sant’Ana, no núcleo antigo de Telheiras. Posteriormente, as obras do Metro e da construção da Praça Central fizeram crescer, em muitos, a descrença nessa possibilidade. Mas as boas ideias têm a sua própria dinâmica e hoje, em 2013, vários vizinhos (gostávamos que fossem mais) estão a cultivar regularmente talhões de terreno no bairro de Telheiras, em Lisboa, no Século XXI. Um projecto em que a ART, os serviços técnicos da Câmara Municipal de Lisboa e muitos outros sempre acreditaram. A avaliar pelos resultados destes primeiros meses, este cerca de meio hectar de hortas deve ser dos investimentos com melhor “retorno” por m2 em termos de bem estar pessoal e colectivo da comunidade de Telheiras, tanto dos que trabalham a terra como dos que passam e admiram.
Existem em Espanha diversas experiências de huertos urbanos. Em Madrid, perto do local onde trabalho, um grupo de vizinhos organizou-se e começou recentemente a cultivar uma parcela de terreno baldio. Mas existem na cidade e no país iniciativas bem consolidadas em diversos bairros.
Foto de hortas urbanas em Benimaclet (Valencia, Espanha)
Foto de capa: parque hortícola de Telheiras
Links de interesse:
www.aavvmadrid.org/index.php/aavv/Minisitios/Huertos-urbanos
http://redhuertosurbanosmadrid.wordpress.com/
Carlos Meira