Telheiras, gosto de ti assim
Há semanas intensas e há semanas que, de tanta intensidade, passam por nós sem tempo para nós passarmos por elas. Há três meses que eu aterrei em Telheiras sendo que uma das palavras mais importantes do meu dia-a-dia aqui era: Festival de Telheiras. As reuniões com a Parceria Local, organizadora deste festival, foram acontecendo semanalmente, foram nascendo grupos de trabalho, nasceram as ideias, veio o stress, e chegou a hora de programar: o que fazemos? Fizemos ma-gi-a.
E a magia foi um programa de atividades de uma semana inteira para todos e todas, para crianças e não tão crianças, para quem gosta do hip-hop e para quem prefere dançar zumba, para quem gosta do Ioga ou para quem se apaixona pelos Quiz, para quem adora a cozinha ou para quem prefere degustar um bom vinho, para quem gosta da Fanfarra ou quem prefere ouvir à Tuna, para quem gosta da reciclagem ou quem gosta mais de uma boa massagem, mesmo para os fãs de selfies ou agora já mais conhecidas como as nossas “Telfies” ou selfies do bairro.
Alguém me pergunta qual é que foi o meu melhor momento. E então lembro o sábado no jardim: o Contador de Histórias rodeado da criançada toda, famílias sentadas na relva, e mais miúdos a brincar no espaço criança e a subir pelas árvores. Lembro que nesse mesmo momento as pessoas caminham curiosas pelos diferentes stands do festival, onde estão os colegas da Parceria Local a partilhar o seu trabalho diário com alegria. O percurso continua pela Feira do Comércio e pela Feira da Tralha. E lembro que olhe para onde olhar, alguma coisa está a acontecer, é sábado, o sol brilha no céu e todo o mundo sorri. Gosto deste bairro assim, com certeza.
Olho também para os meus colegas, que não param, a Clara a tentar registar na sua câmara fotográfica cada momento deste festival e desta magia. O Filipe a acolher as pessoas no bar e stand de informação sempre com um sorriso na boca. E o Luís, incansável e imprescindível, a tentar que tudo corra devidamente para que a magia deste evento não desapareça. Sinto-me orgulhosa de poder fazer parte desta equipa, que é a Parceria Local de Telheiras e, em especial, da Viver Telheiras, sem a qual possivelmente este festival nem teria acontecido.
O Festival de Telheiras acabou. É quase como se o mundo acabasse também. Nem rasto das bandeirinhas de cores. Dos cavaletes com a programação, dos cartazes (obrigada, Raquel Salgueiro!). As pessoas caminham pelas ruas como se nada tivesse acontecido, de casa para o trabalho e do trabalho para a casa. Mas há qualquer coisa na atmosfera e na nossa memória coletiva que faz com que sorríamos ao passar pelo jardim do metro, pelo Centro Comunitário, pela Art, por todos aqueles espaços que se encheram de vida, alegria e festa. Na realidade, o Festival não acabou, foi só uma mostra do que cada dia acontece neste bairro, nas ruas, nos cafés, nas escolas, no Parque Hortícola, nas lojas, nas associações, na biblioteca… a festa continua, só tens de procurar onde é…!
María é uma jovem do norte de Espanha que colabora com Associação Viver Telheiras através do Serviço de Voluntariado Europeu. Galega e de coração transatlântico, é educadora social, curiosa e viajante. Depois de morar um ano em Lisboa, cidade que a fez “alfacinha”, passou a trabalhar em diferentes entidades sociais e educativas da Galiza para finalmente voltar a terras lusas através do Serviço de Voluntariado Europeu.
“De Telheiras para o mundo” é um conjunto de crónicas sobre as suas vivências e reflexões inspiradas no bairro de Telheiras e na cidade de Lisboa.
