Animal do mês: a Rela-meridional

A Rela-meridional (Hyla meridionalis) é uma espécie de rã que existe na região Sudoeste da Península Ibérica, alguma zonas do Sul de França e no Magreb. A risca lateral da que sai de trás do olhos estende-se até aos membros anteriores. Pode atingir os 6,5 centímetros de comprimento e tem os membros posteriores alongados, o que lhe dá um ar muito engraçado quando está a equilibrar-se.

Os anfíbios têm uma importância capital na preservação da biodiversidade do planeta, e um interesse científico extremo, pois representam um salto evolutivo marcante na história da vida na Terra (e na terra). Geração após geração, estes animais repetem a ligação umbilical que mantém com a água, e aventuram-se cada um deles à conquista dos ambientes terrestres, re-encenando um processo magnífico da nossa história evolutiva. A nossa dependência da água é omnipresente. A estratégia que os mamíferos utilizam, de carregar um pequeno oceano na barriga das fêmeas durante um período de gestação necessário para a formação de uma barreira eficaz na separação dos ambientes internos e externos ao corpo, é literalmente rebuscada e evoluiu muito posteriormente à dos primeiros anfíbios, anteriores aos primeiros mamíferos, naturalmente. Os anfíbios, os primeiros vertebrados a sair da água, têm outra estratégia, mais antiga. Mantêm as suas fases reprodutivas e germinativas no interior da água, sob a forma dos ovos sem casca e dos conhecidos girinos, e só depois ocupam os seus territórios terrestres, onde buscam alimento e se escondem dos predadores.

A rela-meridional pertence a este grupo de animais fantásticos e primitivos que se tem adaptado usando as mais variadas estratégias para sobreviver, e desenvolvido as soluções mais engenhosas. Muitos anfíbios escondem nos seus genes a chave para a produção de toxinas que podem ter as aplicações mais impressionantes no campo da medicina e da bio-engenharia. Quer na produção de medicamentos quer no combate às infecções ou mesmo nos campos de investigação de aumento da longevidade. É um caso exemplar dos benefícios técnicos e práticos da conservação da biodiversidade, que, não sendo os mais importantes, são os que têm mais significado para uma fatia importante da população humana.

A nossa simpática rela-meridional, embora não possa ser vista em Telheiras, também beneficiará de a conhecermos e protegermos como património do planeta, e se virem uma não deixem de a admirar!

António Castelo